sábado, 14 de março de 2009

- Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade

- Uma coisa leva a outra


Uma coisa leva a outra
O universo recompensa o esforço, não as desculpas. quando o meu mundo se mostrava hostil, eu costumava olhar para as pessoas que levavam uma vida fascinante e perguntar: “como a vida delas se tornou tão doce?”. Descobri que todas elas tinham começado em algum lugar. O começo modesto levou a outra coisa e depois outra.
Às vezes podemos cometer o erro de ser demasiado seletivos. Somos capazes de rejeitar uma oferta de trabalho raciocinando: “não é isso que eu quero”. Se é a única colocação possível no momento, aceite-a, domine-a e veja como ela o conduz de uma coisa a outra. Se você não tem nada grande a seu favor, comece com o pequeno. Mergulhe.
Um empresário americano costuma contar como um amigo seu arranjou seu primeiro emprego nos Estados Unidos. Ele era imigrante. Sem dinheiro e sem falar inglês, candidatou-se a uma vaga de lavador de pratos num restaurante italiano. Antes da entrevista com o patrão, foi ao toalete do estabelecimento e fez a faxina; limpou o rejunte de cada azulejo com uma escova de dentes até que o banheiro ficasse absolutamente impecável. Essa foi a maneira dele demonstrar que levava a sério o serviço de lavar pratos. O imigrante ficou com o emprego.
Uma semana depois, o ajudante de cozinha encarregado das saladas pediu demissão e ele começou a trilhar o caminho que o levaria a ser chef. Penso nele e em sua escova de dentes toda vez que ouço alguém dizer: “não há emprego em lugar nenhum!”…
Concluindo: fique onde você puder ficar. Dê o melhor de si na atividade à mão, e a oportunidade começará a procurá-lo. Isso se chama desenvolver uma reputação. Chama-se “uma coisa leva a outra”.
(por Andrew Matthews, do livro “Siga seu coração”)

O Desaparecido


Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.
Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.
(texto de Rubem Braga, do livro “A Traição das Elegantes”, Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1969, pág. 112)

Viver,já!


Tudo que temos é o agora. As medidas de nossa paz de espírito e de nossa eficácia pessoal são determinadas por quanto somos capazes de viver o momento presente. A despeito do que aconteceu ontem ou do que possa acontecer amanhã, o agora é o momento em que se está. Desse ponto de vista, a chave para a felicidade e para o contentamento deve ser a focalização de nossas mentes no momento presente!
Uma das coisas mais lindas a respeito das crianças é o fato de elas se envolverem completamente no momento presente. Elas conseguem se envolver por completo em qualquer coisa que estejam fazendo – seja observar um besouro, fazer um desenho, construir um castelo de areia ou qualquer coisa em que decidam aplicar suas energias. Mas, conforme nos tornamos adultos muitos de nós aprendemos a arte de pensar e de nos preocupar a respeito de muitas coisas ao mesmo tempo. Conseguimos deixar que nosso problemas passados e nossas preocupações com o futuro invadam e povoem o nosso presente de modo a nos tornarmos deprimidos e ineficazes.
Também aprendemos a protelar nossos prazeres e nossa felicidade, muitas vezes desenvolvendo o conceito de que, em algum ponto do futuro, tudo será melhor do que agora… Mas a questão é: nenhum de nós tem a garantia de que estará aqui amanhã. Por isso o agora é tudo o que temos!. Viver o agora implica em desfrutar o que quer que estejamos fazendo, pelo simples dato de fazê-lo e não apenas pelo resultado final…
Viver o agora significa expandir percepções para tornar o momento presente mais agradável. Cada um de nós tem a opção, momento a momento, de escolher viver de verdade, de se absorver, de permitir ser tocado e afetado pelas coisas. E todas as vezes que vivemos o momento presente, afastamos o medo de nossas mentes.
Em essência, o medo é a preocupação com eventos que podem acontecer em algum ponto do futuro… Viver o momento inclui agir sem medo das conseqüências; significa fazer esforços para que haja envolvimento, sem a preocupação de haver ou não uma recompensa justa por isso…
Na verdade, o tempo não existe, exceto como um conceito abstrato na sua cabeça. O momento presente é o único tempo que você tem. Faça algo desse momento!
(texto de Andrew Matthews, no livro “Seja Feliz)